"In The Future" (2008)

Quando é que me iam avisar que neste século já se podia misturar Black Sabbath, Led Zeppelin, Jefferson Airplane, King Crimson, Pink Floyd e Neil Young no mesmo disco? Às vezes, na mesma canção (ouvir Tyrants ou a pura devastação que é Bright Lights)?
Quando é que pensavam dizer-me que, num mundo pop ou folk ou electrónico, revivalista dos 80's, já se podia fazer um disco porreiríssimo de rock a sério, baseado em riffs de guitarras - em síncope e tudo! -, temperado por sintetizadores e mellotrons fantasmagóricos (Wucan), aqui e ali com uma fuga acústica a evocar Neil Young (a inspiradora Stay Free)?
Ninguém avisa.
E depois um gajo apanha com tudo de frente.
Ao mesmo tempo.
E fica baralhado.
Os 70's vêm aí outra vez (não era nada mau, que os 80's, «assim-como-assim», começam a enjoar...)?
«Alguém lhe tirou a matrícula?...»

Tyrants
Stay Free
Evil Ways

Foto: Elliott Erwitt

Contem todos os músicos cegos de que se conseguem lembrar, assim, de repente. Contem os vossos Stevie Wonder, Ray Charles, José Feliciano e outros que se lembrem.
Nada que se possa comparar ao primórdios dos blues no Sul esclavagista...

Dry Bone Shuffle - Blind Blake (1927)
How Can a Poor Stand Such Times - Blind Alfred Reed (1929)
Long Distance Moan - Blind Lemon Jefferson (1929)
God Moves On The Water - Blind Willie Johnson (1929)
Death Room Blues - Blind Willie McTell (1933)
Cross And Evil Women Blues - Blind Gary (1935)
Piccolo Rag - Blind Boy Fuller (1938)


Blind Boy Fuller acabaria por morrer não muito tempo depois:

The Death of Blind Boy Fuller - Brownie McGhee (1941)

Bob Dylan voltou ao bluesman Blind Willie McTell, numa música onde o homenageia, gravada em 1983 mas preterida no alinhamento de "Infidels" desse ano, chegando ao conhecimento público 8 anos depois. A música apresenta Dylan ao piano e Mark Knopfler na guitarra acústica.

Os Arcade Fire acabam de lançar um vídeo para Black Mirror em site exclusivo (tal como tinha sido feito com Neon Bible) . Mais um excelente vídeo, com realização de Oliver Groulx e Tracy Maurice.
Em baixo fica um still do vídeo. Clicando nele...

Os Dead Combo estão a gravar um novo disco, o que é excelente. Mais excelente ainda é que estão a fazer um vídeo-blog-diário com todos os passos por que estão a passar nas gravações. Chama-se Dead Combo Recording Sessions e merece mesmo uma espreitadela.
Para os que ainda cá estão fica uma belíssima gravação ao vivo do tema Mujitos Summer de "Vol. II - Quando A Alma Não É Pequena" (2006), registada no antigo palco da Incrível Almadense (Incrível Club).


Mujitos Summer (ao vivo), Dead Combo

Humming, Portishead
"Portishead" (1997)

Realização: Ben Waters

Podem acompanhar a performance objecto do webcast de ontem à noite dos Radiohead, na playlist abaixo, em 15 retalhos.
Bom proveito!

Já cheguei a meio do web-gig, estavam os rapazes a tocar Jigsaw Falling Into Place, à qual se seguiu Videotape - pelo que presumo terem tocado todos os temas de "In Rainbows". Após a última canção do novo disco, uma pausa na pequeníssima sala completamente a abarrotar, a fazer lembrar o título da faixa de abertura de "Amnesiac" (Packt Like Sardines in a Crushd Tin Box).
No encore, voltou primeiro Thom para tocar, com a guitarra acústica, Up On The Ladder, seguindo-se, já com o resto da banda, You and Whose Army, The National Anthem, My Iron Lung e, para o final, The Bends.
Registei a boa disposição da banda, bem visível no frontman Yorke, rindo-se com o público e brincando com os outros elementos da banda e as letras da música, na pele do rocker brincalhão e comunicativo que ele nunca foi!...
Em resumo, um belo serão.

Packt Like Sardines In a Crushd Tin Box - Radiohead
"Amnesiac" (2001)

Já por aqui (algures) foi dito que Bob Dylan é, provavelmente, o compositor mais influente da história da música popular e que a extensão de tal influência ainda não é possível de ser "quantificada".
De Dylan sabe-se que é um ser, por vezes, intratável, que, para além das milhares de ideias musicais e líricas que «deu à luz», se locupletava das de muitos outros poetas e compositores, anteriores ou contemporâneos (amigos e namoradas incluídos).
Se na lírica há a distinguir o nome de Dylan Thomas (ao qual se convencionou ter Robert - Bob - Zimmerman "roubado" o nome), musicalmente Bob Dylan sempre se referiu a Woody Guthrie como sua principal inspiração.
De resto, aquando à sua primeira passagem por New York, Dylan reservou algum do seu tempo para ir visitar Guthrie ao Hospital Psiquiátrico de Greystone, New Jersey - onde Woody acabou os seus dias.
Woody foi, de resto, um dos primeiros (talvez o primeiro?) cantores de intervenção, muito provavelmente devido aos tempos da Grande Depressão que o homem viveu na pele, juntando à "guitarra vermelha" e aos "três acordes" um pouco de "verdade". Claro é também, apesar de se sentir desconfortável com a denominação, que Dylan foi um dos mais importantes (o mais importante?) cantores de intervenção, a «voz da sua geração».
Ora, como se pode manifestar a influência musical de Woody em Bob? Bem, acho que o exemplo abaixo é bastante elucidativo...

Talkin' Dust Bowl Blues - Woody Guthrie
(1940)

Talkin' New York - Bob Dylan
"Bob Dylan" (1962)

* jogo de palavras parvo envolvendo o nome de um monumento de Neil Young.

Chega em finais de Fevereiro o novo disco do duo Alison Goldfrapp e Will Gregory, que se dá pelo nome de família da referida menina, com o nome "Seventh Tree". Um pouco antes chega-nos o curioso vídeo para A&E, o primeiro teaser do álbum. É de esperar do seu visionamento o costumeiro efeito de hipnose que resulta da conjunção dos sintetizadores com a voz de Alison.

È no início de Março que Nick Cave e os seus The Bad Seeds lançam o novo disco, "DIG, LAZARUS, DIG!!!" - com as maiúsculas e os três pontos de exclamação já incluídos. O primeiro avanço, Dig, Lazarus, Dig!!!, acaba de ser colocado na net pela editora, a Mute, no seu canal no You Tube.
Spoken rock muito macho, com bigode e tudo...


Dig, Lazarus, Dig!!!, Nick Cave & The Bad Seeds
"DIG, LAZARUS, DIG!!!" (2008)

Mais certo do que a morte é aquela lei da natureza que diz que «qualquer coisa onde apareça o Christopher Walken é "cool" ou passa a ser "cool"»...


Weapon of Choice, Fatboy Slim
"Halfway Between The Gutter and The Stars" (2000)

Realizador: Spike Jonze

Mark Kozelek faz parte daquele tipo de cantautores que parece (ainda que não o seja) que passou a vida toda a escrever as mesmas 2 ou 3 canções. Ora num registo folk ora num rock mais sujo, a sua voz dolente vai-se arrastando ao cantar o desamor e a dor de alma, seja em nome próprio, como Red House Painters ou, mais recentemente, Sun Kil Moon.
E não é que, para mim, haja mal nisso, tal a competência do homem a fazê-lo.
2008 é o ano para o sucessor (em termos de disco de originais) de "Ghosts of The Great Highway" (2003), com o estranho corpo que é "Tiny Cities" (2005) pelo meio, um disco de versões de músicas dos Modest Mouse - relembre-se, no entanto, que o disco de Kozelek, em nome próprio, "What's Next to the Moon" (2001) era um disco de versões dos... AC/DC, na fase Bon Scott.
Com o nome "April", o novo disco sairá no primeiro dia desse mês. Ao mesmo tempo, será editado o livro "Nights of Passed Over", constituído por letras de Kozelek. Este livro já havia sido editado exclusivamente no mercado português no ano de 2002(!), traduzido para a nossa língua - creio que é produto descontinuado -, tratando-se, agora, de uma edição na língua-mãe do artista.
A editora de Kozelek, a Caldo Verde Records (!!), já disponibilizou uma música de "April", a folkie Moorestown.

Fiquem também com algumas músicas da carreira de Kozelek, nas suas diversas manifestações.

Bad Boy Boogie - Mark Kozelek
"What's Next to the Moon" (2001)
Salvador Sanchez - Mark Kozelek
"Little Drummer Boy Live" (2006)
Glenn Tipton - Sun Kil Moon
Lily And Parrots - Sun Kil Moon
ambas de "Ghosts of The Great Highway" (2003) - ouvir ainda a música sublime deste post.
Wop-A-Din-Din - Red House Painters
"Old Ramon" (2001)
Have You Forgotten - Red House Painters
"Songs for a Blue Guitar" (1996)
Japanese to English - Red House Painters
"Down Colorful Hill" (1992)

A banda de Mark Eitzel volta aos discos em meados do próximo mês, com "The Golden Age", pela mão da Merge Records.
Para aguçar a curiosidade, aqui fica All The Souls Welcome You To San Francisco.

"The Golden Age" (2008)

David Robert Haywood-Jones nasceu há 61 anos em Londres, mas os amigos tratam-no por David Bowie.
Parabéns, então, ao senhor que escreveu, entre muitas outras coisas, uma das canções mais bonitas de sempre, aqui na versão da sempre surpreendente The Ukulele Orchestra of Great Britain.

Life on Mars?, The Ukulele Orchestra of Great Britain
excerto do DVD "Anarchy in the Ukulele" (2005)

Life On Mars? - David Bowie
"Hunky Dory" (1971)

Para quem faltou à missa de domingo, o Rev. Tom Waits faz-vos um apanhado. E pela qualidade da homilia, ficam dispensados das obrigações religiosas até novo aviso.

A nossa secção de vídeos estranhíssimos é hoje patrocinada pelos Xiu Xiu, com este clip para o promissor avanço I Do What I Want When I Want do vindouro "Women As Lovers", a sair no final deste mês (28.01).


I Do What I Want When I Want, Xiu Xiu
"Women as Lovers" (2008)

É a 18 de Fevereiro que os The Mountain Goats de John Darnielle lançam o sucessor de "Get Lonely", com o nome "Heretic Pride".
A Beggars Group USA, conglomerado onde se inclui a 4AD, já disponibilizou o mp3 da faixa inicial, Sax Rohmer #1.

Sax Rohmer #1 - The Mountain Goats
"Heretic Pride" (2008)

Dos mais engraçados mitos que correm mundo relacionando música e cinema, acho bastante piada àquele a que se designou "The Dark Side of The Rainbow", "The Dark Side of Oz" ou "The Wizard of Floyd".

Para os que possam nunca ter ouvido falar disto, a receita explica-se assim: uma cópia a preto-e-branco (dizem que é melhor para a sincronização que a cópia a cores. Juro!) do "Feiticeiro de Oz" (1939); uma cópia do clássico "The Dark Side of The Moon" (1973) dos Pink Floyd. Modo de preparação: carregar no play do disco dos Floyd aquando ao 3.º rugido do leão da MGM.
Lembrem-se! Não é o 1.º rugido do leão da MGM (apesar de haver acólitos ferverosos que dizem que carregar no play nesta altura resolve alguns dos problemas de sincronização), muito menos o segundo rugido felino. «É o 3.º, estúpido!».
Coisas engraçadas (para além de outras): as passagens entre as primeiras músicas, de Breathe in The Air para On The Run, desta para Time até à cena do furacão que faz Dorothy (e a sua casa) voar para bem longe do Kansas e tem como banda sonora a faixa A Great Gig In The Sky e as vocalizações impressionantes de Clare Torry, criando um excelente efeito; a faixa Money entra em acção precisamente quando Dorothy abre a porta, revelando a estrada dos tijolos amarelos (yellow brick road) - altura em que o filme ganha cor.
Coisas um pouco mais engraçadas: os Floyd acham a teoria estapafúrdia, dizendo, desde logo, que há 35 anos não havia sequer meios em estúdio que permitissem a projecção do filme enquanto se gravava a música. Muito mais gira é a teoria de que o pessoal da MGM tinha uma máquina do tempo e foi aos anos 70 buscar uma cópia do "DSotM" e o trouxe de volta. Mas se calhar essas pessoas deviam era fumar tabaco, o que hoje em dia só se pode fazer na rua e faz muito frio.
Diga-se que, como é óbvio, o disco não apresenta a mesma duração do filme. O que fazer?
Também já surgiram muitas teorias sobre isto, desde o modo de repetição no leitor de cd's à rodagem subsequente de outros discos dos Floyd dos anos 70 [hipóteses já estudadas: a) o "Animals" (1977), seguido das faixas 2 e 5 do "Meddle" (1971) - sim, as faixas #2 e #5 e não outras. A sério; b) o mesmo "Animals" seguido do "The Wall" (1979); c) o "Wish You Were Here" (1975)].
Perguntam vocês: «E para quem não tem a paciência, ingredientes ou meios para fazer a experiência?». Não há problema, porque a net está aí para nos ajudar. Houve uma alma que se lembrou de fazer a sincronia e colocá-la nos vídeos do Google. Depois, bastou que o amigo Nande fizesse o favor de me enviar o link da coisa aqui há uns tempos, o que muito lhe agradeço.
Aqui fica:

Já foi disponibilizado no canal dos Radiohead do site de partilha de ficheiros imeem o webcast de ano novo noticiado há dias. A coisa tem o nome "Scotch Mist - a film with Radiohead in it" e podem vê-la carregando no play do vídeo abaixo.
Nele podem encontrar vídeos - ora com performances ao vivo ora com experiências visuais (como o belíssimo efeito super slow motion em Nude) - com todas as músicas do primeiro disco de "In Rainbows".
Vale bem a pena - especialmente se forem fãs dos de Oxford - ganharem uns bons minutos da vossa vida a ver este filmezito.

A gerência aqui do tasco espera que o vosso ano seja feito da "boa onda" que transborda deste vídeo com meio século: