Sean Riley & The Slowriders, ainda que não parecendo, é um colectivo de Coimbra, com Sean Riley na voz e guitarra, Bruno Simões no baixo e Filipe Costa nas teclas e percussão. Lançaram o seu disco de estreia em meados do mês que ora finda, "Farewell", que ainda não ouvi. Penso muito brevemente em colmatar esta falha, até porque tenho excelentes referências dos rapazes, que me foram ofertadas, em parte, pelo criador da fotografia do disco (a foto acima), o amigo Eduardo. E por falar em fotografias, Eduardo e Sean Riley & The Slowriders, recomendo vivamente a junção destes três elementos, para o que apenas têm que clicar aqui. Diga-se apenas que as referências começam a confirmar-se plenas de substância com o porreiríssimo vídeo agora lançado para a música Moving On.
Moving On, Sean Riley & The Slowriders "Farewell" (2007)
Se quiserem conhecer melhor a banda, sigam a ligação para a sua página do Myspace ou assistam a um dos próximos concertos: já hoje, 31.10, na FNAC de Coimbra; no dia 03.11 no In a Bar, Rio Maior; ou dia 10.11, no Órfeão Velho, em Leiria, no âmbito do Fade-In Festival, numa noite que contará também com o contributo do experimentalista-minimalista folk David Thomas Broughton.
Perdido no meio das profusas referências folk do século XX, de Woody Guthrie a Neil Young, de Lead Belly a Springsteen, passando por Joan Baez ou Pete Seeger, com a ponte que os une a todos, Bob Dylan, está um mundo inteiro para descobrir. O objecto desta prosa é um rapaz nascido já no séc. XIX, mais precisamente em 1892, em Louisville, no Kentucky. Nascido de uma família ligada a música, quer pela construção de instrumentos - o pai - quer pela teoria musical - mãe -, John Jacob Niles é, na sua essência um recolector de frases, melodias ou canções de raíz folk ou Apalache. Há músicas que são construídas por Niles apenas a partir de uma frase musical cantadas por negros ou nativos índios enquanto que outras lhe chegam inteiras e construídas. A sua tarefa colectora começa na adolescência, no Kentucky, continua quando se alista no Exército Americano, registando canções de soldados, passa também pelo Conservatório de Cincinnati, Ohio, pelo Canto Lírico em Chicago, Illinois, depois uma mudança para Nova Iorque, uma digressão pelos Estados Unidos e Europa, na companhia da cantora Marion Kerby, uma "expedição" ao sul da Cordilheira Apalache, o cargo de director musical numa escola da Carolina do Norte e o casamento e regresso ao Kentucky, em 1936.
Para além desta faceta recolectora, é impossível separar John Jacob Niles da sua impressionante voz. Para quem pensa que Tim Buckley tirou aquelas viagens do grave vibratto ao mais agudo falsete da sua cabeça, é melhor pensar outra vez. Quando ouvirem a primeira vez John Jacob Niles a cantar, por exemplo, The Hangman, por certo que vão ficar arrepiados, a não ser que tenham a sensibilidade de um mineral. John Jacob Niles acabaria por morrer em 1980. Desconhecia este homem e continuo a não conhecer quase nada. Partilho, então, aqui algumas composições cantadas pelo homem.
« (...) What's he building in there? What the hell is he building in there? We have a right to know.»
Numa altura em que é discutido, um pouco por todo o mundo, a dialéctica "segurança vs privacidade", Tom Waits (curiosamente, antes de 09.2001) propõe-nos o papel de vizinho bisbilhoteiro e desconfiado, a quem lhe basta um ponto para acrescentar o conto. O tema serve ainda para mostrar o quão rico é o aparelho vocal de Tom Waits que, aliado ao tema instrumental de fundo, tornam o ambiente denso o suficiente para apenas ser cortado à catanada, ainda que se trate de uma caricatura que tem muito de humor. Quanto ao excelente vídeo (também ele misterioso e tenso), foi realizado por Lex Brand, como promoção para a empresa de publicidade holandesa "Kessels/Kramer", mas Waits terá gostado tanto dele que o tornou parte da sua videografia oficial.*
What's He Building?, Tom Waits "Mule Variations" (1999)
Engraçada, também, é a versão do tema tocada para o programa "Storytellers" do canal VH1, em 01.04.1999, com uma introdução em forma de história seguida do próprio tema, que vale a pena ouvir de seguida:
(No que respeita à história, tendo em conta a data da gravação do programa e, bem mais importante, o facto de ser Tom Waits a contá-la, é quase certo que não é real...)
Ainda os The National, mas também Springsteen e Arcade Fire
Deixo aqui uma versão live, tocada pelos rapazes, da canção Mansion On The Hill, original de Bruce Springsteen, incluído nesse magistral tesouro de «baixa fidelidade» e excelentes histórias, de nome "Nebraska" (1982).
Mansion On The Hill, The National
Por falar em Springsteen, o casalinho dos Arcade Fire, Win Butler e Régine Chassagne, juntou-se ao concerto do Boss de ontem à noite, em Ontário, Canadá, para versões conjuntas de State Trooper (original de Springsteen, do já referido "Nebraska") e Keep The Car Running (original dos canadianos, de "Neon Bible", 2007), diz o site de fãs Backstreet.com. Curiosa também a afirmação do pessoal do Stereogum: «Remember when you first heard "Keep The Car Running" and thought, "That's the best Bruce Springsteen song not written by Bruce Springsteen"?». E olhem que se calhar...
«(...) No matter what happens now I won't be afraid Because i know today has been The most perfect day i've ever seen» in Videotape, Radiohead, "In Rainbows" (2007)
Pois é. "Ele" já por aí anda. Melhor, metade dele, que a segunda parte está guardada para Dezembro, numa edição especial "física", no valor de £ 40 (cerca de € 60) e, já para 2008, numa edição standard, a distribuir pelas lojas.
E o que dizer? Sim, o que dizer de um disco que tem uma fuga mundial para a net (anunciada) a um preço entre os £ 0,45 (tarifa do download) e o que o consumidor quis pagar pelo produto? O que dizer de um disco que foi ouvido por centenas de milhares (ou mesmo, milhões) de pessoas "ao mesmo tempo"? O que dizer de um disco que já muita gente conhecia na sua faceta live e que ansiava pelo registo de estúdio? O que dizer de um disco que, antes de o ser, era revolução? Para começar - e ainda relativamente a quente -, que "In Rainbows" não tem um Paranoid Android; não tem um Street Spirit (Fade Out). É razão para desanimar? Claro que não. Não faltam nunca aqueles 15 ou 30 segundos de música e músicas inteiras que se acoplam ao cerebelo com a força de "Super Cola 3": aqueles riffs das guitarras do Ed O'Brien e do Jonny Greenwood (v.g., Bodysnatchers, 15 Step, Jigsaw Falling Into Place); aqueles contratempos de percussão, electrónicos ou orgânicos saídos da cabeça para a bateria de Phil Selway (por ex., 15 Step, Weird Fishes/Arpeggi) ou o manejo do prato crash (em Reckoner); as linhas de baixo hipnóticas de Colin Greenwood (Nude, House Of Cards, Jigsaw Falling Into Place) ; o piano em estado sonâmbulo e aquelas vocalizações cuja idealização não é nada convencional, mas que, depois de reverberadas pela caixa torácica e saídas da boca de Yorke, se tornam tão naturais como se fosse impossível que ninguém se tivesse já lembrado daquilo (piano e voz juntos, em estado de espanto, em Videotape). Thom Yorke parece cantar cada vez melhor, como se isso fosse possível. Mas, normalmente, com os vocalistas, é mesmo assim. Pode é questionar-se: se Yorke parece cantar cada vez melhor, como Ed Vedder (já que aqui cheguei, penso que Bodysnatchers será sempre uma música que os Pearl Jam gostariam de ter feito e aquelas vocalizações finais de Yorke reportam-nos, instintivamente, a Vedder), as ideias da banda começam a escassear? Para quem questiona, a resposta é não. As ideias continuam lá. E boas, felizmente. Este disco não tem, efectivamente, um Paranoid Android ou um Exit Music, mas tem (para já!) um corpo homogéneo de 10 canções - e descubram lá uma que seja menos que "muito boa" - ora em estado quase líquido (15 Step, Weird Fishes/Arpeggi, All I Need ou Faust Arp - uma coisa fabulosa, esta última) ora etéreo (Nude, Reckoner ou House Of Cards), sendo Bodysnatchers uma espécie de ligação a solo firme. E digam lá se, por exemplo, Jigsaw Falling Into Place não tem matéria para se tornar um instant classic dos moços de Oxford?
O som de 2007 é este dos Radiohead, é também o dos Beirut de "The Flying Club Cup", é, porque não?, o daquela espécie de Buckley-circa-"Live at Sin-È"-trans-génica (cruzes, credo!), Annie Clark (ou St. Vincent) de "Marry Me", sem desprimor para mais alguns nomes. Não é aquela repescagem e re-colagem dos 80's, por muito que os 80's tenham tido coisas muito boas. Análises mais aprofundadas e frias ficam para o pós-57.ª audição... (As músicas que aqui ficam em baixo foram, praticamente, escolhidas aleatoriamente)
Avisa-se, desde já, que os contadores da rubrica foram "a zeros".
Assim, posso colocar este sonho de versão de My Bond With You and Your Planet: Disco! dos Zita Swoon, com um meddley a meio que conta com a revisitação a muitos dos clássicos da música disco. Para vossa surpresa, não os revelo. Garanto apenas que, para além de abanos de cabeça, pés e caudas, muitos sorrisos se vos vão desenhar na cara...
Olhando para um qualquer "Borda D'Água" musical, tem de se reconhecer que o dia 9 de Outubro é um dia rico em acontecimentos, bastando apenas olhar para os nascimentos. Em 1940, um dos compositores revolucionários da pop, John Lennon levava os primeiros tabefes no rabo, enquanto que a St. Paul's Cathedral era bombardeada, em plena "Batalha da Bretanha", que opôs os jovens e garbosos aviadores da Luftwaffe aos menos garbosos mas mais pontuais rapazes da Royal Air Force. O próprio primogénito de John, Sean, abria pela primeira vez a goela em 1975. Um pouco antes, em 1948, Jackson Browne, músico que tocou com Tim Buckley e Nico e compositor que compôs, entre outros, These Days e The Fairest of The Seasons (que Nico cantou no seu clássico "Chelsea Girl", de 1967), vestia o seu primeiro gorro. Em 1969, era a vez de Polly Jean Harvey, que acaba de lançar o novo "White Chalk", dar o seu primeiro grito. No que respeita a cantautores portugueses, foi neste dia, em 1261, que D. Dinis dava o seu primeiro principesco «ai!». Mais tarde, D. Dinis havia de se tornar um jovem agricultor (tal como P.J. Harvey) e depois um velho agricultor. Nos interstícios dos labores do campo, o «Lavrador» foi arranjando tempo para compor Cantigas de Amor e de Amigo. Como os meus mp3 de D. Dinis são de fraca qualidade, o olhar sobre "White Chalk" está para breve e ainda coloquei há pouco tempo uma das composições de Browne, deixo-vos com uma versão de Across The Universe, original de "Let It Be" (1970) dos Beatles, interpretado por Sean Lennon, with a little help from his friendsRufus Wainwrhight e Moby.
Across The Universe, Sean Lennon + Rufus Wainwright + Moby (concerto de homenagem a John Lennon, no Radio City Music Hall, NY, 2001)
(Andróide Paranóide, desde 15.09.2006 a construir aquele que é, provavelmente, o mais impressionante acervo de factos irrelevantes e desinteressantes all across the universe.)
Quanto aos Arcade Fire, a surpresa foi revelada: um vídeo interactivo do tema-título do último disco, "Neon Bible", tendo como variáveis a cara e mãos de Win Butler.
Apesar de "The Flying Club Cup" só sair na próxima semana, o disco já não será surpresa para (quase) ninguém. A coisa fugiu para a net em finais de Agosto, depois, Condon e companhia fizeram um Take Away Show para a série do La Blogothèque, nas ruas de Paris - postado aqui.
Agora, no site com o nome do novo disco, a pareceria Condon/Blogothèque volta a atacar, propondo-se a captar gravações vídeo de todas as músicas, tendo como pano de fundo Brooklyn, NY. Para já, há 8 vídeos já editados, faltando A Sunday Smile, Cheerbourg, St. Apollonia e o tema-título, que encerra o disco. Para Cliquot, Zach conta com a excelente ajuda de Ed Droste, dos Grizzly Bear, mas vale bem a pena ver todas as versões das músicas em regime take away.
Não havendo qualquer música ou vídeo musical que faça a promoção ao vertiginoso "In Rainbows", cada um acaba por se coçar como pode. Nesse sentido, o site da Rolling Stone faz o apanhado dos vídeos e mp3 recolhidos ao vivo de actuações das músicas novas dos Radiohead. Sigam por aqui. Quanto a este vosso tasco, o aperitivo faz-se também com a performance de uma das faixas mais promissoras, Arpeggi, tocada em 16.05.2006, no Wolverhampton Music Hall:
Palace foi uma das denominações utilizadas por Will Oldham (a.k.a. Bonnie 'Prince' Billy - outra!) para fazer música. Os Palace existiram como tal nos meados dos anos 90, editando dois discos ["Viva Last Blues" (1995) - de onde sai a música Old Jerusalem, que acabou por emprestar o nome a um dos melhores projectos da música portuguesa - e "Arise, Therefore" (1996)]. Trago-vos o título mais longo e sugestivo (e o mais gráfico, de certeza) do catálogo dos Palace:
Sendo verdade - e, ao que parece, é - que os Radiohead vão lançar o seu disco via net, para já por download directo, dando a opção ao consumidor do preço que quer pagar, e mais tarde - Dezembro - já com o seu suporte físico (cd + vinil), estamos a falar de uma autêntica revolução, a que os patrões do mundo musical não vão (nem podem) ficar alheios. Estamos a falar de uma banda-charneira da cultura pop actual, que toda e qualquer editora quereria ver nos seus quadros. Estamos a falar de uma "contratação" (perdoem-me o futebolês) de milhões a que os de Oxford, por opção, se decidiram manter à margem. Hoje, 1 de Outubro, é um dia de reflexão. Pode estar a fazer-se história, com este «fuck off!» dos Radiohead à indústria musical. São eles que comandam as operações, evitando, desde logo, a apropriação atempada e ilegal do seu conteúdo para distribuição em sites de partilha de dados (e-mule, torrents, etc.). Obviamente que após o início da distribuição, isso vai acontecer, mas a pirataria sôfrega que antecedeu "Hail to The Thief" (2003), que os levou a alterar uma ou outra música até ao lançamento definitivo, em 09 de Junho, está combatida. Tudo o que movimenta um disco - publicidade, edição e distribuição - está por conta deles, é certo. Mas se o post com a bomba foi colocado no blog Dead Air Space, à meia-noite de hoje, a verdade é que à 1h já aparecia repercutido aqui no tasco... e já vi referência ao disco em, pelo menos, uma dezena de blogs da especialidade. Com isto quero apenas dizer que a publicidade, quando a marca é excelente, faz-se a ela própria. Resta saber se os Radiohead montaram uma máquina bem oleada que lhes escoe, digital e fisicamente, o produto. Por fim, note-se que o download digital do disco custa... o que vocês quiserem! «It's Up Tou You», diz o site. «It's Really Up To You...»! Impressionante, não é? Uma coisa é certa: agora, como desde há 12 anos, com o lançamento de "The Bends" (e, sem qualquer dúvida, 10 anos, com o lançamento de "OK Computer"), os Radiohead estão bem à frente de tudo o que se vai mexendo debaixo do Sol... Nobody Does It Better, já dizia Carly Simon, na música escrita para o filme da série Bond, "The Spy Who Loved Me" (1977)...
Nobody Does It Better, Radiohead
Deixo aqui, para finalizar, o cardápio para "In Rainbows", disco-duplo dos Radiohead: CD 1 15 Step Bodysnatchers Nude Weird Fishes/Arpeggi All I Need Faust Arp Reckoner House of Cards Jigsaw Fallig Into Place Videotape
CD 2 MK 1 Down Is The New Up Go Slowly MK 2 Last Flowers Up On The Ladder Bangers & Mash 4 Minute Warning
No meio de toda a especulação que se tem feito sobre o 7.º dos Radiohead, havendo reputadíssima gente a tentar ler uns desenhos estranhos que os rapazes de Oxford deixaram no seu blog, Dead Air Space, chegando à brilhante conclusão que o disco sairia em Março/08, surge a minha estupefacção com o post que o guitarrista Jonny Greenwood lá colocou: que o disco está pronto, que daqui a dez dias (dia 10) está disponível para download e que se chama "In Rainbows"!... Verdade? Manobra publicitária? Simples diversão? Aguarda-se confirmação...