21.3.07
Palavras para quê? VIII
12 cordas, 6 duplas. As três cordas duplas mais graves estão separadas, entre si, por uma oitava. A afinação é a esquisita: Ré, Lá, Si, Mi, Lá, Si.
Toca-se com os cinco dedos da mão esquerda (com especial atenção para o polegar, que se ocupa, por regra, dos bordões), mas apenas com o indicador e o polegar da mão direita.
De Lisboa para Coimbra, o corpo é diferente: em Lisboa mais arredondado, em Coimbra mais esguio, com a forma de uma lágrima. E não apenas isso. De Lisboa para Coimbra, a afinação desce um tom (pelo que, no fundo, a afinação de Coimbra, pelo diapasão, é Dó, Sol, Lá, Ré, Sol. Lá).

Tendo vivido os seus mais verdes anos em Coimbra (muda-se para Lisboa aos 9 anos), Carlos Paredes aprendeu a tocar guitarra com o seu pai, o Mestre Artur Paredes.
Foi funcionário público toda a sua vida e músico em part-time.
É bem conhecida a sua filiação política no PCP e os problemas que, por isso, teve de enfrentar nas décadas do Estado Novo.
Lança o seu primeiro disco, homónimo, em 1957 e uma das suas obras mais conhecidas é fruto da sua contribuição para o filme "Verdes Anos" (1962) do realizador Paulo Rocha. O primeiro Longa Duração, "Guitarra Portuguesa", é editado em 1967.
Em 1993, foi-lhe diagnosticada uma mielopatia que o atirou para a cama de um hospital e o separou, para sempre, da sua querida guitarra (conta-se que, numa das suas viagens, a guitarra chegou a ser dada como perdida, tendo o próprio confessado ter pensado em suicídio), até à sua morte, em 23 de Julho de 2004.
Era um homem simples, humilde e sem manias, como qualquer verdadeiro génio.
Créditos finais para o construtor da sua guitarra, João Pedro Grázio Júnior, e para os acompanhantes de sempre de Paredes: Ana Luísa Amaro (também companheira de vida de Carlos) e Fernando Alvim - que aparece a tocar a viola com cordas eléctricas nas Variações sobre o Mondego, em baixo (e não é o gajo da Antena 3!).
A não perder também, o filme "Movimentos Perpétuos: Tributo a Carlos Paredes" (2006), de Edgar Pêra.

Para começar, antes de mais (e porque é dia):
Canto de Primavera

Sede
Canto de Amor
Verdes Anos

Variações Sobre o Mondego (da autoria de Gonçalo Paredes, avô de Carlos Paredes)
Variações do Mondego #1 (da autoria de Artur Paredes, pai de Carlos. Uma peça que sempre me fascinou, em particular)

Todas estes temas foram editados na compilação "Asas Sobre o Mundo", de 1989.

Para mais informações, recomenda-se a consulta da informação que sobre ele existe na net, em biografias e na sapiência do meu querido amigo Carlos Rebocho!...

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Olavo Lüpia, 21.3.07 | Referências |


2 Comments:


  • At 22 março, 2007 11:06, Blogger JC

    Que saudades, de repente, de um tipo a vaguear, com uma guitarra, pelo Botânico, ao fim da tarde. E de um outro tipo a dizer qualquer coisa como: ó JC... empresta aí a coisa... e dos sons que se inventaram, no jardim, nos telhados de Farmácia, nos sofás de casa das albicastrenses...
    Que saudades da minha guitarra, a tal, muito antiga da qual se disse, na primeira aula "olha, uma completamente diferente"... e depois, quando ela abriu a garganta: "porra, que grande som"... vou procura-la, ainda hoje, para a amar um pouquinho, como há muito tempo não faço.
    Obrigado, miúdo!

     
  • At 22 março, 2007 11:22, Blogger Olavo Lüpia

    Mas que belas recordações foste tu desencantar, amigo!
    Grande abraço.