Esta era visão do músico sobre o seu próprio disco. Impressionante.
O disco começa com Mojo Pin, uma primeira música de desejo. Intenso. Buckley referiu-se a Mojo Pin como uma música que fala sobre um sonho (sobre o sentido da expressão Mojo Pin). A música começa suave e a entrada da voz de Buckley foca-nos a atenção, assim como parece focar a atenção da música, que ali se passa a centrar (assim como Jeff focava as atenções de quem o via ao vivo). Os refrões finais vêm das entranhas e é impossível ficar-se "desligado".
Em continuação, o tema-título, Grace: «This is a song about (...) not feeling so bad about your own mortality, when you have true love», Jeff Buckley. Lindíssima a construção musical, impressionante a vocalização. Aquele grito final desarma e rasga qualquer alma mais empedernida.
Last Goodbye é uma música que não pode existir! A primeira vez que a ouvi pareceu-me uma musiquinha bonitinha, ponto final. Mas, quando reparei na composição da música... Jesus (e eu nem religioso sou)! Desde a afinação aberta em Sol da guitarra - base da composição -, as estrofes, a ponte musical... as melodias. As melodias não existem. Nada é tão perfeito. De tão bem trabalhadas, parece a única maneira de se cantar a música... Nem por sombras. A letra é mais uma vez de desejo, ainda que na despedida: «Kiss me, please kiss me. Kiss me out of desire, baby, not consolation. It makes so angry, 'cause I know that in time I'll only make you cry, this is our last goodbye».
Lilac Wine segue-se e é a evocação directa a Nina Simone, uma das suas mais importantes musas inspiradoras. O desejo por outrém marca mais uma vez a música. Lindíssima.
So Real é um marco de composição. Pode muito bem aplicar-se a esta música o que Jimmy Page, dos Led Zeppelin (uma das maiores referências de Buckley, em termos de guitarra), disse de Buckley. Qualquer coisa como «one of the things that was a little frightening is that I was convinced that he probably did things in tunings, but he didn't. It was standard tunnings and I thought: 'jeez, he really is clever, isn't he?'». Nesta música, o trabalho de guitarra é qualquer coisa de genial e o refrão vem de um planeta diferente... De génio.
Hallelujah é a definitiva e sensual versão do monumento de Leonard Cohen. Há muitas versões desta música, de gente tão importante como John Cale ou Rufus Wainwright, e nada se assemelha à de Buckley.
Lover, You Should've Come Over não tem explicação. Uma das mais inacreditáveis músicas de amor que já ouvi. Uma balada soul com uma letra fabulosa e uma composição musical que, lá mais para o fim, se torna ainda mais densa e impressionante.
Corpus Christi Carol, composta por Benjamin Britten, é mais uma solução perfeitamente possível para uma voz tão ampla e flexível como a de Jeff.
Eternal Life é a música de protesto do disco, anti-racismo/xenofobia. Grande música e um ênfase especial para a secção rítmica: irrepreensível.
Dream Brother é, provavelmente, qualquer mensagem que Buckley, o Jeff, tinha no seu interior para dizer a Buckley, o Tim. Uma grande música a fechar o disco.
Não há músicas que mereçam um epíteto menor que "excelente" e, pelo menos, metade delas são de génio.
Era uma entrada no mundo dos Long Plays pela porta grande, mostrando uma enorme versatilidade e um talento esfusiante. Um ponto de partida para uma carreira segura. Este seria o Dylan ou o Springsteen do futuro. Um compositor de excepção com uma voz única e um demarcamento claro do nome do pai Tim.
O que mais podia querer ou desejar um miúdo de 27 anos?
Aproveito para deixar aqui os vídeos que saíram deste "Grace":
Grace
Last Goodbye
So Real
Etiquetas: 10/10, 1994, Grace, Jeff Buckley
Poucas coisas (leia-se o Jeff) mexem comigo como isto....
A música e a composição deste homem são únicas... como este post. Parabéns Jeff... Parabéns Tó!