Talvez não tão óbvio (e para não se perder de todo o fio do post anterior) é o facto de ter sido um guitarrista fabuloso.
Desde logo, foi um rapaz que muito explorou as diferentes afinações da guitarra, em especial nas denominadas 'afinações abertas' (traduzido do inglês 'open tunnings'), que são, no fundo - e para quem só pegou numa guitarra para bater na cabeça de um transeunte incauto -, aquelas que permitem a obtenção de um acorde sem o uso da mão esquerda, isto é, só com os golpes nas cordas por intervenção da mão direita(*). 'Aberta', lá está.
Mas não era apenas isso. Bem mais. 'O meu reino e um cavalo pela mão direita do homem' é o que me vem à cabeça dizer (**). Pense-se que o que Nick Drake está a fazer na guitarra é, já de si, difícil. Depois, reflicta-se(***) que essa coisa difícil é acompanhada pela voz do próprio.
Pois! Quando pensamos nestes elementos em simultâneo, a coisa fica tão linear como uma litografia de M.C. Escher...
Na 'demo' que colocamos abaixo - e que faz parte, juntamente com outro material de Drake raro, prévio ao disco de estreia de 1969 e não editado, do disco "Family Tree" (2007) -, é notória a dificuldade do nosso herói em tocar e cantar uma das suas excelentes composições, tanto que o homem se engana e até o ouvimos rir disso, no meio da gravação. Mas, incontornavelmente, herói que é herói recompõe-se e leva a tarefa até ao fim. Antes de o dia acabar.
Day Is Done (demo) - Nick Drake
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(**) eu não penso muito no que estou a escrever; e não me vem muita coisa à cabeça; e, quando vem, cerca de 90% é lixo... quer dizer, este tasco é de borla, sim?
(***) como sei que gostam bastante de reflectir, meti uma forma verbal reflexa no verbo reflectir, de modo a poderem reflectir enquanto reflectem.
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Muito bom!